4 de mai. de 2014

RESENHA - Petite sémiotique du rythme. Éléments de rythmologie - de Louis Hébert



Resenha de artigo
HÉBERT, L. Petite sémiotique du rythme. Éléments de rythmologie, Signo. Québec: Rimousk, 2011. Disponível em: http://www.signosemio.com/semiotique-du-rythme.asp.

Levi Henrique MERENCIANO
Unesp – FCL/Araraquara
Doutorado
CAPES
Semiótica do ritmo – legado saussuriano

Em Petite sémiotique du rythme, Louis Hébert vale-se das noções saussurianas do signo linguístico (em torno dos conceitos de significante e significado), a fim de desenvolver um método descritivo da expressão que descreva as diferentes semióticas por meio do significante. Nessa direção estruturalista, pensa nas possibilidades de organização rítmica das diferentes unidades de expressão. Partindo da sintagmatização de unidades significantes, Hébert menciona ser necessárias três operações para produzir ritmo:

- a segmentação em unidades;
- sua disposição;
- e a seriação dessas unidades.

Hébert vale-se de critérios de segmentação, com vistas a dispor as unidades significantes e propor recursos para seriá-las, com o intuito de observar a organização própria das diferentes semióticas – os processos de seriação de unidades de sentido.
Assim, uma unidade mínima de ritmo é obtida a partir de configurações particulares, por meio da consecução espaço/temporal de significantes, que devem ser constituídos ao menos por duas unidades, de valor idêntico (A,A) ou diferente (A,B), em ao menos duas posições em sucessão no tempo. Os fatores possíveis, a partir dos quais pode ser feita uma análise do ritmo, são: o número de posições sucessivas; o número de posições simultâneas; o número de unidades por posição sucessiva; o número de unidades suscetíveis de ocupar cada posição; o tipo de unidades implicadas; a duração das unidades.
Ao indicar possibilidades de concomitância ou serialidade de significantes, Hébert busca explicar que as semióticas podem diferir-se por meio do ritmo. O autor parte dos significantes linguísticos, dizendo que dependem de duas formas de distribuição quanto à forma da expressão: os significantes fonêmicos e os significantes grafêmicos. Diz que as duas distribuições nem sempre coincidem. Um fonema, por exemplo, pode estar associado a mais de um grafema, como o “ch” do português. Ao dar importância às características da serialidade inerente a unidades significantes, faz distinção entre a realização das semióticas, articulando os tipos de consecução à restrição ou liberdade do espaço/tempo. As articulações obedecem basicamente a quatro tipos:

Consecução restrita + tempo/espaço livre

A leitura de um texto em prosa ou de um poema depende da linearidade do significante (ordem fixa). Portanto, o tempo/espaço é restrito, mas a consecução é livre, pois a apreensão dos significantes está condicionada ao modo pelo qual se lê: “[...] un texte se lit en principe d’un mot au suivant, mais on peut prendre une pause entre deux mots, on peut revenir en arrière, devancer, etc.” (HÉBERT, 2011, s/ p.) . Veja-se que não somente a semiótica verbal pode se comportar assim, mas a fala também, de acordo com a forma que o falante desenvolve a sua linha de prosódia. A leitura de um poema também demanda um tipo de consecução restrita (obedece à linearidade do significante, mesmo que o tempo/espaço seja +/- restrito), obedecendo à necessidade das equivalências da expressão (ritmo, rimas, etc.). Essa consecução +/- restrita também pode ser observada nas formas poéticas fixas, como é o caso dos sonetos e das marcações silábicas, sobretudo nos versos binários e ternários, ascendentes e descentes (PIGNATARI, 2005, p. 22-24).

Consecução restrita + tempo/espaço restrito

As semióticas do tipo audiovisual (cinema, clipe, documentário, telejornalismo) ou sonoro (música) possuem um tipo de consecução determinado pelo suporte por meio do qual se manifestam: “la projection d’un film en salle n’est pas en principe interrompue, ralentie, accélérée, inversée, etc.” (HÉBERT, 2011, s/ p.). Mesmo que o audiovisual seja projetado em outros dispositivos (DVD, tevê aberta), quando não se considera a intervenção humana (com pauses, rewinds, etc.), a consecução e o tempo/espaço são sempre restritos.


Uma pintura, um desenho, uma escultura, uma fotografia, uma charge demandam um tipo de consecução livre, assim como tempo/espaço livre, uma vez que se pode ir de um detalhe a outro dessas representações visuais sem a necessidade de uma ordem restrita, portanto. Diferentemente de unidades grafemáticas, que dependem de uma sintagmatização fixa, uma imagem tende a condensar seus elementos no espaço representado, assim como uma pretensa captação simultânea de elementos denotados (em uma fotografia, por exemplo) ou conotados (no caso de uma charge). No caso do HQ (gibi), é possível tanto seguir uma consecução restrita, quanto percorrer os quadrinhos livremente, pois as imagens seriadas não possuem uma articulação de mesma complexidade que a de um texto, que obedece a uma linearidade restrita de significantes para produzir sentido.


Uma peça de teatro possui a consecução baseada na performance do elenco (livre, pois os pontos no espaço alternam-se nos diferentes contextos de realização da encenação), mas o andar da peça depende de tempo restrito, pois os momentos marcantes dos atos e suas transformações narrativas em geral dependem da sincronia dos personagens com a equipe de produção. A dança também poderá seguir uma sintagmática livre (como em uma discoteca, em que cada qual faz seu passo), mas o tempo/espaço é marcado ritmicamente, conforme as batidas da música.

Essas formas sintagmáticas (livres ou restritas) de conceber as unidades significantes das diferentes semióticas, segundo Hébert, podem auxiliar a responder inúmeras dificuldades em se analisar os diferentes sincretismos próprios das diferentes manifestações semióticas. Na organização das unidades fílmicas (no audiovisual, por exemplo), há dois tipos de ritmo de leitura implicados na manifestação: um aliado ao fotograma, cuja estaticidade de alguns enquadramentos mais lentos permite lê-los como imagens quase que decompostas (quase que estáticas), a tempo de identificar até mesmo seus formantes (consecução +/- livre); e outro, aliado à mobilidade (à ilusão de movimento, de iconização do fluxo temporal, segundo consecução restrita), que vai desde a combinação de gestos e pequenas ações dos personagens, até às performances de perseguição típicas de Hollywood, com respeito às quais nem sequer é possível que o espectador as acompanhe sem a necessidade de recursos (deturpadores da expressão?), como pause, quadro a quadro, etc., ou até mesmo rever o filme

Referências
FLOCH, J.-M. Petites mythologies de l’oeil et de l’esprit. Paris: Hadès-Benjamins, 1985.
______. Sémiotique, marketing et communication – sous les signes, les strategies. Paris: Presses Universitaires de France, 1990.
GREIMAS, A. J. & COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução Alceu Dias Lima et alii. São Paulo: Cultrix, 1979.
______. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage II. Compléments, débats, propositions. Paris: Hachette, 1986.
HÉBERT, L. Petite sémiotique du rythme. Éléments de rythmologie, Signo. Québec: Rimousk, 2011. Disponível em: http://www.signosemio.com/semiotique-du-rythme.asp.
PIGNATARI, D. O que é comunicação poética. 8.ed. Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2005.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

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